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- Sea World consegue arquivar projeto que propõe banir exploração de baleias em cativeiro
Postado Por : Dom Ruiz
quinta-feira, 24 de abril de 2014
O PODER DA INDÚSTRIA DO ENTRETENIMENTO
O Sea World de San Diego estava enfrentando uma legislação estadual que alguns acreditavam que poderia arruinar seus negócios, já que colocaria um basta aos shows de baleias orcas no estádio Shamu.
Mas o parque marinho lançou um ataque agressivo, que manteve o projeto de lei parado no Comitê Democrata de Água, Parques e Vida Selvagem (Democrat-dominated Assembly Water, Parks and Wildlife Committee) – conhecido por simpatizar com a inovadora legislação sobre os direitos animais. Ao final, nenhum voto foi dado ao projeto mais discutido no Capitólio. As informações são do UT San Diego.
Idealizada pelo Deputado Richard Bloom, a medida foi arquivada há duas semanas para que novos estudos possam ser realizados sobre os impactos do encerramento dos shows e a proibição de criação de orcas em cativeiro. Bloom prometeu retornar à questão no próximo ano.
Bloom apresentou o projeto no dia 7 de março, provocando uma intensa campanha logo de início. Três dias depois, o SeaWorld contratou um influente e bem relacionado lobista, Pete Montgomery. Por sua vez, Bloom trouxe a bordo um representante para trabalhar junto aos democratas. Um grupo de relações públicas versado em gestão de crises também foi acionado.
Ao longo das quatro semanas seguintes que antecederam a votação de terça-feira (8), o SeaWorld apresentou táticas comerciais testadas e aprovadas para aumentar o apoio do público e pressionar os membros da comissão.
O Friends of SeaWorld com apoio local e estadual, incluindo o ex- prefeito de San Diego Jerry Sanders, atualmente CEO na câmara de comércio, além de importantes funcionários de turismo, bateram de porta em porta no Capitólio. Altos executivos do parque, normalmente reclusos, foram para o centro do palco, encontraram-se com jornalistas e fizeram um raro convite aberto para o pessoal do Capitólio. Pacotes brilhantes contando a história de SeaWorld, números e mapas foram entregues a todos.
A presença da presidente da Assembleia Toni Atkins, foi uma força para o SeaWorld, apesar de sua insistência de que se manteve neutra em relação ao projeto de lei. Ela destacou a celebração do 50°aniversário do SeaWorld no dia 21 de março – bem no meio do debate – e elogiou repetidamente o parque por seu valor para a economia e a vida marinha.
Falando reservadamente, para não provocar sua ira, alguns legisladores disseram que sua mensagem era clara, que Atkins queria que se interrompesse o caminho desse projeto de lei. Também ficou claro, se não dito, que alguns líderes do partido, talvez até mesmo aqueles da equipe do governador Jerry Brown, não queriam entregar aos republicanos uma questão sobre empregos, em um ano eleitoral.
Uma figura crucial para o SeaWorld foi Scott Wetch, lobista de muitas das causas próximas aos democratas. Um ex-assessor de legisladores respeitados, Wetch passou dois dias no SeaWorld, em preparação. Então, em reuniões privadas, ele mostrou os principais pontos do SeaWorld e amparado em suas credenciais de amante de animais, lembrou aos legisladores que sua empresa trabalhou para a Humane Society dos EUA na campanha bem sucedida de 2011 para proibir a venda de barbatanas de tubarão na Califórnia. E muitas vezes ele ressaltou que um dos assessores de Bloom tinha trabalhado para um parlamentar que foi veementemente contra a proteção dos tubarões.
A estratégia de Wetch perante a comissão era fechar o negócio deixando claro aos legisladores que o parque poderia simplesmente transferir suas baleias para a Flórida ou Texas, caso o projeto se tornasse lei. O que ele argumentava era que a lei não faria nada para impedir o show com as baleias. Bloom argumentou que o projeto, pelo menos iria proteger as gerações futuras e impediria a reprodução em cativeiro – mesmo com o SeaWorld enviando para ouro lugar as baleias do show.
Wetch também levantou questões constitucionais, como a expropriação ilegal e violação das leis de comércio interestadual.
Antes de Wetch apresentar esses pontos,o parque e os seus patrocinadores tinham uma abordagem mais amigável. Enfatizaram pontos de discussão bem ensaiados sobre o custo para a economia e para a reputação mundial do parque nas áreas de pesquisa e resgate de mamíferos marinhos.
O SeaWorld também refutou alguns dos argumentos apresentados por seus críticos. Um pesquisador da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz – um campus com uma reputação liberal – testemunhou que o trabalho com orcas em cativeiro pode ajudar baleias em estado selvagem. Isso foi contrário ao testemunho apresentado por defensores do projeto. Em cartas e telefonemas, líderes respeitados de zoológicos e aquários exortaram os legisladores a rejeitarem o projeto de lei – reforçando o argumento do SeaWorld de que a medida iria abrir a porta para regulamentar outros estabelecimentos.
SeaWorld também foi capaz de multiplicar as dúvidas, atacando uma disposição da lei que sugeria que as orcas poderiam permanecer em exibição pública, talvez em grandes santuários marinhos. O problema, argumentou a equipe do SeaWorld, é que santuários marinhos para as baleias não foram testados, são caros e pode nem mesmo ser aprovados pela Comissão Costeira ou pela legislação federal.
Enquanto isso, Bloom sabia algo que os seus adversários não sabiam, de acordo com as pessoas familiarizadas com os acontecimentos ocorridos na manhã da audiência. Pouco antes de bater o martelo, o presidente Anthony Rendon advertiu Bloom de que ele planejava recomendar que o projeto de lei ficasse sem votação.
Bloom e seus partidários seguiram em frente, apresentando seus fortes argumentos de que manter baleias em cativeiro e forçando-as a fazer truques era desumano. Um treinador falou sobre maus-tratos e perigos. Um biólogo descreveu o dano às orcas e mostrou porque a pesquisa de animais em cativeiro já não vale a pena o preço. E dezenas de cidadãos esperaram pacientemente para deixar o comitê saber como eles se sentiam. Bloom não contestou a decisão da Rendon, nem exigiu a votação. Durante a audiência, Rendon disse que apoia o projeto de lei.
O SeaWorld, e seus proprietários nacionais, não são grandes contribuintes de campanha política do estado da Califórnia, doando cerca de 22.000 dólares ao longo de vários anos para vários candidatos estaduais de ambos os partidos. No entanto, tem esbanjado doações para o Prefeito Kevin Faulconer de San Diego e para candidatos ao Congresso.
“Ficou muito claro que os votos não estariam lá naquele dia”, disse Bloom. “Havia um sentimento de inquietação. As pessoas não se sentiam no controle dos fatos. Eu respeito isso. É assim que as coisas estavam.”
Quanto aos santuários marinhos, Bloom reconheceu obstáculos. Ele já sabia. Ele já trabalhou na Comissão Costeira do estado. ”É um caminho incerto, mas isso não quer dizer que é impossível”, disse, observando que a comissão tem atuado em uma série de projetos inovadores. ”Só porque é uma ideia nova e não foi tentada antes, não significa que não seja possível.”
Bloom e seus partidários estão mantendo a cabeça erguida, determinados a voltar no próximo ano com mais estudos para demonstrar que as baleias são prejudicadas e que o SeaWorld pode crescer sem o show de orcas. Eles sabiam que o tempo não estava ao seu lado, dado que havia apenas quatro semanas entre a apresentação do projeto e a audiência. A complexidade e a natureza controversa da lei exigia mais de um mês.
Eles também sabem que as mais importantes leis de bem-estar animal demoram anos para se concretizar. Esta lei estabeleceu as bases para reformas potenciais que o SeaWorld conseguiu abafar, graças à sua influência nos círculos locais e estaduais. ”Eu sou uma pessoa paciente”, afirmou Bloom