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- Brasileiros lutam pela preservação de raias gigantes em Santos (SP)
Postado Por : Dom Ruiz
domingo, 4 de maio de 2014
AMEAÇADAS PELA PESCA
Uma das raias mantas registrada pelo projeto
Mergulhadores do Instituto Laje Vive descobriram a existência de raias mantas gigantes (Manta birostris), no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, no litoral de São Paulo. A partir do primeiro individuo da espécie avistado, começaram a ser realizadas pesquisas e estudos sobre a espécie. A suspeita é que o Brasil tenha a menor população de raias mantas do mundo. Por isso, surgiu o Projeto Mantas do Brasil, que busca a preservação e pesquisa científica desse animal no litoral de São Paulo.
“Os mergulhadores foram na Laje e se apaixonaram”, conta a Ana Paula Balboni Coelho, coordenadora geral do projeto Mantas do Brasil e fundadora do Instituto Laje Viva. Eles descobriram que uma grande rocha, localizada há cerca de 1h30 da cidade de Santos, abriga uma rica vida marinha. Por isso, em 1993, foi criado o Parque Estadual Marinho Laje de Santos e, em 2003, a ONG Instituto Laje Viva com a finalidade de assegurar integral proteção a todos os ecossistemas naturais deste local.
Durante os trabalhos de pesquisas na Laje, os mergulhadores encontraram as primeiras raias mantas.
“É muito louco, na hora que o seu cérebro consegue enxergar o que está vendo, um animal preto gigantesco, com 5 metros, parecia um morcego de barriga preta. Elas são raras. A minha primeira, foi uma negra”, conta Ana Paula.
Raias Mantas
Segundo a pesquisadora, a raia manta é uma ‘prima’ do tubarão e é gigantesca. Ela se alimenta por plânctons. “A solução dela de nadar batendo asas e se alimentar, dando looping, é espetacular. Ela consegue manter um corpanzil gigantesco filtrando só plânctons”, disse Ana. As raias mantas têm cinco pares de fendas branquiais, cérebro grande, e de acordo com os pesquisadores, tem olhos curiosos e é muito brincalhona. Cada fêmea está pronta para reproduzir aos 6 ou 7 anos de idade e vive até os 20. Ela tem um único bebe a cada três anos. Assim, uma fêmea de raia manta tem a capacidade de gerar quatro ou cinco bebês em uma vida. “Por isso, o homem não pode meter a colher em uma relação tão delicada, como animais que tem a reprodução tão complexas”, fala Ana Paula. A população das raias mantas no Brasil são migratórias, partem do Sul do país e podem chegar até o Espírito Santo. “Essa população brasileira, pelo que a gente sabe, é a menor população de raias gigantes do mundo. Tem várias outras, mas apesar de serem migratórias, não cruzam o oceano”, explica. Segundo ela, a maior população de mantas fica no Equador, onde há cerca de 3 mil animais catalogados.
Durante 20 anos, os pesquisadores e mergulhadores reuniram fotos das raias mantas que passaram pela Laje de Santos. Ao todo, foram contabilizadas 82, sendo 2 negras. No ano passado, o projeto Mantas do Brasil começou a colocar uma espécie de chip nos animais avistados. O aparelho fica preso nas costas do animal e é programado para se soltar e transmitir as informações para os pesquisadores. Desta forma, eles conseguem ter mais conhecimento sobre as rotas das raias.
Preservação
O grande problema para a espécie é a morte das raias, principalmente, devido a pesca e caça do animal. “Elas acabam sendo mortas porque são gigantescas e levam no peito as redes dos pescadores. E, se ele (pescador) tiver que matar ela para recuperar a rede é isso que ele vai fazer”, diz Ana.
Além disso, a pesquisadora fala que em alguns países o animal é utilizado para curandeirismo. “As raias mantas estão sendo perseguidas para suprir o mercado asiático porque inventaram que, se ela é uma filtradora de plâncton, os filtros que ela têm nas fendas branquiais são filtradores do sangue humano. Estão começando a pescar as mantas do mundo para mandar para a China, para vender a preço de ouro e comer”, afirma a pesquisadora. Os navios chineses pescam ilegalmente em águas brasileiras. Mas, o Brasil não tem o foco de pesca para a venda. Mesmo assim, em março de 2013, o governo proibiu a pesca de todos os mobulídeos, além do desembarque do animal na terra mesmo que tenha sido morto acidentalmente.
Por todas essas questões, o projeto “Mantas do Brasil’ busca realizar pesquisas científicas, que poderão estimar o tamanho populacional da raia manta no Brasil e determinar suas rotas migratórias na costa brasileira. Todo o trabalho é feito para preservar as raias mantas. “Se conseguirmos provar que essa população é muito pequena, extremamente frágil, do ponto de vista reprodutivo, a gente consegue protegê-las. Precisamos conhecê-las para preservar. Se você não sabe porque ela é frágil e quanto é frágil, você não tem elementos para uma aprovação de legislação de proteção”, explica Ana.
Além das pesquisas, neste ano, o grupo quer conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação da espécie. O grupo começou a realizar educação ambiental nas escolas da rede municipal de Santos. Nessa primeira fase, o projeto vai atingir cerca de 5 mil crianças e a intenção é chegar 15 mil no final do projeto. “Se não mostrarmos para a criança, vamos mostrar para quem? A criança que chega em casa educando os seus pais. Se não focarmos na criança não vamos ter resultados positivos. Estamos muito orgulhosos e vamos fazer a diferença”, afirmou Ana.
Fonte: G1