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Postado Por : Dom Ruiz quinta-feira, 23 de julho de 2015

"EU TINHA QUE FAZER ALGO"

“Ou você toma uma atitude ou não. Decidi que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo”, diz Rejane Velho Ferreira, que construiu um sítio no Lami para cuidar de animais abandonados. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) "EU TINHA QUE FAZER ALGO" “Ou você toma uma atitude ou não. Decidi que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo”, diz Rejane Velho Ferreira, que construiu um sítio no Lami para cuidar de animais abandonados. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) “Ou você toma uma atitude ou não. Decidi que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo”, diz Rejane Velho Ferreira, que construiu um sítio no Lami para cuidar de animais abandonados. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) “Isso aqui é um trabalho de vida e de entrega. Eu comecei a trabalhar com animais abandonados no dia em que abandonaram uma cadela prenha perto de onde eu trabalhava. Diante de uma situação como esta, as pessoas costumam dizer: ‘alguém tem que fazer alguma coisa’. Mas não existe o alguém. Esse alguém é cada um de nós e essas situações de abandono sempre envolvem uma escolha. Ou você toma uma atitude ou não. Eu me dei conta que alguém tinha que fazer algo por eles e esse alguém era eu”. Rejane Velho Ferreira conta a história de como começou a resgatar e cuidar de animais abandonados, por volta do ano 2000, enfatizando essa dimensão da escolha que atravessa a vida e sempre nos desafia a tomar uma atitude…ou não.  Em 2006, ela tomou uma decisão importante em sua vida e, junto com o marido, comprou um sítio de aproximadamente um hectare e meio no bairro do Lami, localizado no extremo sul de Porto Alegre. Na época, ela tinha dez cães e seis gatos e ele, seis cães e um gato. A ideia era encontrar um lugar com espaço e características especiais que pudesse dar uma maior qualidade de vida aos animais. O sitio adquirido na zona rural da capital gaúcha tinha essas características: muito espaço, mas nenhuma infraestrutura. Nascia ali uma experiência de cuidado de animais abandonados que se tornou uma referência nacional. O Sítio da Rejane tem hoje uma população de aproximadamente 300 cães e 40 gatos resgatados da rua, “que sonham ser adotados por humanos de raça”, como diz a página do sítio no Facebook.  “Nunca imaginei chegar onde cheguei”  “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Foto: Guilherme Santos/Sul21 “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Foto: Guilherme Santos/Sul21 Quem visita o sítio, porém, tem a impressão de que, se fosse realizada uma pesquisa entre os cachorros e cachorras, uma boa parte talvez não quisesse sair dali. Afinal, viver em um sítio de um hectare e meio, com um pequeno açude para brincadeiras aquáticas no verão, direito à casa com lareira nas noites geladas do inverno gaúcho, cuidado e amor, não é uma combinação a ser desprezada, especialmente por parte de animais que já experimentaram as dores do abandono e da solidão. “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Ela assegura que nunca planejou ter um sítio com tantos animais. “Nunca imaginei chegar onde cheguei”, afirma, assinalando que esse percurso foi sendo construído pela decisão de tomar uma atitude diante do abandono e não esperar que “alguém” fizesse alguma coisa.  A escolha teve seus custos, que seguem até hoje. Custos econômicos, afetivos e sociais. “Quando chegamos, não havia nada aqui”, conta Rejane, apontando para um terreno ao lado do sítio, sem qualquer construção e atravessado por um banhado. “Me disseram que eu tinha que fazer um dreno no terreno para tirar a água. Eu não tinha a menor ideia do que se tratava. Menina de apartamento, eu tinha pânico de barata e aqui tive que aprender a conviver com aranhas, escorpiões e cobras. Hoje eu tenho medo de temporal por conta dos estragos. Quase todas essas árvores que vocês estão vendo aqui foi meu marido que plantou”, aponta indicando uma área junto às casas e seguida pelo olhar atento de algumas dezenas de cães que acompanhavam com curiosidade e apreensão a conversa dela com aqueles dois estranhos. O início foi muito difícil. “Mudamos para cá em dezembro de 2006 e no mês seguinte eu fui demitida”. Ela decidiu seguir em frente.  “A ideia sempre foi ser um sítio sustentável”  Nas noites geladas de inverno, lareira é um dos espaços mais disputados. (Foto: Divulgação) Nas noites geladas de inverno, lareira é um dos espaços mais disputados. (Foto: Divulgação)  Cerca de nove anos depois, o que ela e seu marido Daniel construíram impressiona pelos números e, principalmente, pela entrega afetiva e existencial. Os cachorros consomem cerca de 4 toneladas de ração por mês. Dois caseiros e mais cinco pessoas ajudam com a logística da alimentação, da vigilância para controlar eventuais brigas, da saúde e recreação dos animais. Há uma divisão de trabalho entre eles e um sistema de vigilância permanente, sete dias por semana. O custo mensal atual gira em torno de 25 mil reais, entre gastos com ração, folha de pagamento dos funcionários e gastos com veterinária. Cerca de 100 animais tem padrinhos que contribuem mensalmente e ajudam a sustentar o sítio. “A ideia sempre foi ser um sítio sustentável”, diz Rejane que trabalha ainda como voluntária da Associação Duas Mãos, Quatro Patas.  Os animais também têm as suas divisões e grupos. Os gatos vivem separados em uma casa com pátio amplo, transformada em gatil. Na sua vizinhança, um cavalo e algumas galinhas. Os cães se dividem em grupos e as relações de dominação entre eles não tem a ver necessariamente com tamanho. Rejane cita como exemplo a história da Minhoca, uma pequena cadela que manda e desmanda em cães maiores que ajudou a criar. Todos os mais de 300 cães que habitam o sítio hoje tem nome e uma história. Ela mantem um registro de chegada dos animais e garante: “Todos eles têm nome e história. De vários deles eu conheço o latido e os costumes”.  “A ideia do livro é contar a minha experiência de vida e a história deles”  É uma rotina puxada. “São mais de oito anos de trabalho árduo, sem férias, sem viagens. Neste período todo, dormi duas vezes fora daqui”. Hoje, Rejane enfrenta um novo e insólito problema. Ela, Daniel e as duas filhas, Amanda (5 anos) e Natália (4 anos e meio), se mudaram para uma casa nova que construíram no sítio. Durante a noite, os cães que dormem na casa antiga começam a uivar e não param enquanto não enxergam sua protetora. Questionada sobre se, alguma vez, já teve vontade de desistir, ela responde: “Algumas horas dá um cansaço, é verdade. Mas, me livrar deles não é uma opção. Eles dependem de mim”. E Rejane, ela admite, também depende deles. Agora, ela começou a escrever essa história que pretende publicar em um livro.  “A ideia do livro é contar a minha experiência de vida, falar de como descobri que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo. Quero contar a história de meus bichos e de como eles me influenciaram. Eles também foram e são importantes para o meu próprio resgate”.   Várias dessas histórias estão publicadas na página do sítio da Rejane no Facebook; histórias como a de Napoleão, que superou um câncer e adora andar de carro para sentir vento em seu rosto:  Nadar e brincar no açude é uma hora de festa para os cães. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) Nadar e brincar no açude é uma hora de festa para os cães. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) Napoleão, lindo, fofo e querido. Do que ele gosta? De passear de carro! Qualquer carro, desde que esteja com a porta aberta…. pode ser o vidro, também! Chegou aqui com um tumor no nariz, passou muito trabalho esse queridão, fez uma cirurgia, teve um dreno colocado na cabeça, fez quimioterapia…. há tempos está 100% recuperado mas nunca apareceu adotante pra ele. Apesar de ser grande e ter alguma cruza com Pitt Bull, é o cão mais dócil do mundo, com pessoas, outros cães, gatos, galinhas. Se você tem carro e quer levar ele pra dar uma voltinha, é só chegar! E se quiser levar ele pra morar contigo tem que ter um muro muito alto, pra ele não trocar teu carro pelo primeiro que passar de vidro aberto!!!  “Ser um animal é estar cheio de ser e de alegria”  A história de Rejane não é simplesmente a de uma pessoa que decidiu dedicar a sua vida a cuidar de animais abandonados. É, sobretudo, a história de uma escolha, de uma decisão, que pode se aplicar a todas as dimensões da vida. Defrontada com uma situação onde achava que “alguém tinha que fazer alguma coisa”, viu que esse alguém era ela mesma e decidiu fazer e seguiu fazendo. A equação que soma a renovação diária da decisão de “não ficar esperando alguém fazer” com a existência, também diária, de situações de abandono e de maus-tratos de animais, levou à construção de um sítio que hoje tem cerca e 350 cães e gatos resgatados do abandono e vivendo livres.  No livro “A Vida dos Animais”, do escritor sul-africano J. M. Coetzee, Nobel de Literatura em 2003, a personagem Elizabeth Costello diz que “ser um animal é estar cheio de ser e cheio de alegria”. E, no último capítulo do livro, Barbara Smuts, professora de psicologia e antropologia na Universidade de Michigan, defende que “tratar membros de outras espécies como seres com um potencial muito além de nossas expectativas normais, nos trará o que há de melhor neles”. A história de Rejane parece indicar que pode trazer também o que há de melhor em nós, ampliando as próprias fronteiras e possibilidades do humano.  (*) Para quem quiser obter maiores informações sobre como apadrinhar um dos animais do sítio da Rejane,acesse aqui.
“Ou você toma uma atitude ou não. Decidi que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo”, diz Rejane Velho Ferreira, que construiu um sítio no Lami para cuidar de animais abandonados. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“Isso aqui é um trabalho de vida e de entrega. Eu comecei a trabalhar com animais abandonados no dia em que abandonaram uma cadela prenha perto de onde eu trabalhava. Diante de uma situação como esta, as pessoas costumam dizer: ‘alguém tem que fazer alguma coisa’. Mas não existe o alguém. Esse alguém é cada um de nós e essas situações de abandono sempre envolvem uma escolha. Ou você toma uma atitude ou não. Eu me dei conta que alguém tinha que fazer algo por eles e esse alguém era eu”. Rejane Velho Ferreira conta a história de como começou a resgatar e cuidar de animais abandonados, por volta do ano 2000, enfatizando essa dimensão da escolha que atravessa a vida e sempre nos desafia a tomar uma atitude…ou não.
Em 2006, ela tomou uma decisão importante em sua vida e, junto com o marido, comprou um sítio de aproximadamente um hectare e meio no bairro do Lami, localizado no extremo sul de Porto Alegre. Na época, ela tinha dez cães e seis gatos e ele, seis cães e um gato. A ideia era encontrar um lugar com espaço e características especiais que pudesse dar uma maior qualidade de vida aos animais. O sitio adquirido na zona rural da capital gaúcha tinha essas características: muito espaço, mas nenhuma infraestrutura. Nascia ali uma experiência de cuidado de animais abandonados que se tornou uma referência nacional. O Sítio da Rejane tem hoje uma população de aproximadamente 300 cães e 40 gatos resgatados da rua, “que sonham ser adotados por humanos de raça”, como diz a página do sítio no Facebook.
“Nunca imaginei chegar onde cheguei”
"EU TINHA QUE FAZER ALGO" “Ou você toma uma atitude ou não. Decidi que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo”, diz Rejane Velho Ferreira, que construiu um sítio no Lami para cuidar de animais abandonados. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) “Ou você toma uma atitude ou não. Decidi que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo”, diz Rejane Velho Ferreira, que construiu um sítio no Lami para cuidar de animais abandonados. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) “Isso aqui é um trabalho de vida e de entrega. Eu comecei a trabalhar com animais abandonados no dia em que abandonaram uma cadela prenha perto de onde eu trabalhava. Diante de uma situação como esta, as pessoas costumam dizer: ‘alguém tem que fazer alguma coisa’. Mas não existe o alguém. Esse alguém é cada um de nós e essas situações de abandono sempre envolvem uma escolha. Ou você toma uma atitude ou não. Eu me dei conta que alguém tinha que fazer algo por eles e esse alguém era eu”. Rejane Velho Ferreira conta a história de como começou a resgatar e cuidar de animais abandonados, por volta do ano 2000, enfatizando essa dimensão da escolha que atravessa a vida e sempre nos desafia a tomar uma atitude…ou não.  Em 2006, ela tomou uma decisão importante em sua vida e, junto com o marido, comprou um sítio de aproximadamente um hectare e meio no bairro do Lami, localizado no extremo sul de Porto Alegre. Na época, ela tinha dez cães e seis gatos e ele, seis cães e um gato. A ideia era encontrar um lugar com espaço e características especiais que pudesse dar uma maior qualidade de vida aos animais. O sitio adquirido na zona rural da capital gaúcha tinha essas características: muito espaço, mas nenhuma infraestrutura. Nascia ali uma experiência de cuidado de animais abandonados que se tornou uma referência nacional. O Sítio da Rejane tem hoje uma população de aproximadamente 300 cães e 40 gatos resgatados da rua, “que sonham ser adotados por humanos de raça”, como diz a página do sítio no Facebook.  “Nunca imaginei chegar onde cheguei”  “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Foto: Guilherme Santos/Sul21 “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Foto: Guilherme Santos/Sul21 Quem visita o sítio, porém, tem a impressão de que, se fosse realizada uma pesquisa entre os cachorros e cachorras, uma boa parte talvez não quisesse sair dali. Afinal, viver em um sítio de um hectare e meio, com um pequeno açude para brincadeiras aquáticas no verão, direito à casa com lareira nas noites geladas do inverno gaúcho, cuidado e amor, não é uma combinação a ser desprezada, especialmente por parte de animais que já experimentaram as dores do abandono e da solidão. “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Ela assegura que nunca planejou ter um sítio com tantos animais. “Nunca imaginei chegar onde cheguei”, afirma, assinalando que esse percurso foi sendo construído pela decisão de tomar uma atitude diante do abandono e não esperar que “alguém” fizesse alguma coisa.  A escolha teve seus custos, que seguem até hoje. Custos econômicos, afetivos e sociais. “Quando chegamos, não havia nada aqui”, conta Rejane, apontando para um terreno ao lado do sítio, sem qualquer construção e atravessado por um banhado. “Me disseram que eu tinha que fazer um dreno no terreno para tirar a água. Eu não tinha a menor ideia do que se tratava. Menina de apartamento, eu tinha pânico de barata e aqui tive que aprender a conviver com aranhas, escorpiões e cobras. Hoje eu tenho medo de temporal por conta dos estragos. Quase todas essas árvores que vocês estão vendo aqui foi meu marido que plantou”, aponta indicando uma área junto às casas e seguida pelo olhar atento de algumas dezenas de cães que acompanhavam com curiosidade e apreensão a conversa dela com aqueles dois estranhos. O início foi muito difícil. “Mudamos para cá em dezembro de 2006 e no mês seguinte eu fui demitida”. Ela decidiu seguir em frente.  “A ideia sempre foi ser um sítio sustentável”  Nas noites geladas de inverno, lareira é um dos espaços mais disputados. (Foto: Divulgação) Nas noites geladas de inverno, lareira é um dos espaços mais disputados. (Foto: Divulgação)  Cerca de nove anos depois, o que ela e seu marido Daniel construíram impressiona pelos números e, principalmente, pela entrega afetiva e existencial. Os cachorros consomem cerca de 4 toneladas de ração por mês. Dois caseiros e mais cinco pessoas ajudam com a logística da alimentação, da vigilância para controlar eventuais brigas, da saúde e recreação dos animais. Há uma divisão de trabalho entre eles e um sistema de vigilância permanente, sete dias por semana. O custo mensal atual gira em torno de 25 mil reais, entre gastos com ração, folha de pagamento dos funcionários e gastos com veterinária. Cerca de 100 animais tem padrinhos que contribuem mensalmente e ajudam a sustentar o sítio. “A ideia sempre foi ser um sítio sustentável”, diz Rejane que trabalha ainda como voluntária da Associação Duas Mãos, Quatro Patas.  Os animais também têm as suas divisões e grupos. Os gatos vivem separados em uma casa com pátio amplo, transformada em gatil. Na sua vizinhança, um cavalo e algumas galinhas. Os cães se dividem em grupos e as relações de dominação entre eles não tem a ver necessariamente com tamanho. Rejane cita como exemplo a história da Minhoca, uma pequena cadela que manda e desmanda em cães maiores que ajudou a criar. Todos os mais de 300 cães que habitam o sítio hoje tem nome e uma história. Ela mantem um registro de chegada dos animais e garante: “Todos eles têm nome e história. De vários deles eu conheço o latido e os costumes”.  “A ideia do livro é contar a minha experiência de vida e a história deles”  É uma rotina puxada. “São mais de oito anos de trabalho árduo, sem férias, sem viagens. Neste período todo, dormi duas vezes fora daqui”. Hoje, Rejane enfrenta um novo e insólito problema. Ela, Daniel e as duas filhas, Amanda (5 anos) e Natália (4 anos e meio), se mudaram para uma casa nova que construíram no sítio. Durante a noite, os cães que dormem na casa antiga começam a uivar e não param enquanto não enxergam sua protetora. Questionada sobre se, alguma vez, já teve vontade de desistir, ela responde: “Algumas horas dá um cansaço, é verdade. Mas, me livrar deles não é uma opção. Eles dependem de mim”. E Rejane, ela admite, também depende deles. Agora, ela começou a escrever essa história que pretende publicar em um livro.  “A ideia do livro é contar a minha experiência de vida, falar de como descobri que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo. Quero contar a história de meus bichos e de como eles me influenciaram. Eles também foram e são importantes para o meu próprio resgate”.   Várias dessas histórias estão publicadas na página do sítio da Rejane no Facebook; histórias como a de Napoleão, que superou um câncer e adora andar de carro para sentir vento em seu rosto:  Nadar e brincar no açude é uma hora de festa para os cães. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) Nadar e brincar no açude é uma hora de festa para os cães. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) Napoleão, lindo, fofo e querido. Do que ele gosta? De passear de carro! Qualquer carro, desde que esteja com a porta aberta…. pode ser o vidro, também! Chegou aqui com um tumor no nariz, passou muito trabalho esse queridão, fez uma cirurgia, teve um dreno colocado na cabeça, fez quimioterapia…. há tempos está 100% recuperado mas nunca apareceu adotante pra ele. Apesar de ser grande e ter alguma cruza com Pitt Bull, é o cão mais dócil do mundo, com pessoas, outros cães, gatos, galinhas. Se você tem carro e quer levar ele pra dar uma voltinha, é só chegar! E se quiser levar ele pra morar contigo tem que ter um muro muito alto, pra ele não trocar teu carro pelo primeiro que passar de vidro aberto!!!  “Ser um animal é estar cheio de ser e de alegria”  A história de Rejane não é simplesmente a de uma pessoa que decidiu dedicar a sua vida a cuidar de animais abandonados. É, sobretudo, a história de uma escolha, de uma decisão, que pode se aplicar a todas as dimensões da vida. Defrontada com uma situação onde achava que “alguém tinha que fazer alguma coisa”, viu que esse alguém era ela mesma e decidiu fazer e seguiu fazendo. A equação que soma a renovação diária da decisão de “não ficar esperando alguém fazer” com a existência, também diária, de situações de abandono e de maus-tratos de animais, levou à construção de um sítio que hoje tem cerca e 350 cães e gatos resgatados do abandono e vivendo livres.  No livro “A Vida dos Animais”, do escritor sul-africano J. M. Coetzee, Nobel de Literatura em 2003, a personagem Elizabeth Costello diz que “ser um animal é estar cheio de ser e cheio de alegria”. E, no último capítulo do livro, Barbara Smuts, professora de psicologia e antropologia na Universidade de Michigan, defende que “tratar membros de outras espécies como seres com um potencial muito além de nossas expectativas normais, nos trará o que há de melhor neles”. A história de Rejane parece indicar que pode trazer também o que há de melhor em nós, ampliando as próprias fronteiras e possibilidades do humano.  (*) Para quem quiser obter maiores informações sobre como apadrinhar um dos animais do sítio da Rejane,acesse aqui.
“A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia.
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Quem visita o sítio, porém, tem a impressão de que, se fosse realizada uma pesquisa entre os cachorros e cachorras, uma boa parte talvez não quisesse sair dali. Afinal, viver em um sítio de um hectare e meio, com um pequeno açude para brincadeiras aquáticas no verão, direito à casa com lareira nas noites geladas do inverno gaúcho, cuidado e amor, não é uma combinação a ser desprezada, especialmente por parte de animais que já experimentaram as dores do abandono e da solidão. “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Ela assegura que nunca planejou ter um sítio com tantos animais. “Nunca imaginei chegar onde cheguei”, afirma, assinalando que esse percurso foi sendo construído pela decisão de tomar uma atitude diante do abandono e não esperar que “alguém” fizesse alguma coisa.
A escolha teve seus custos, que seguem até hoje. Custos econômicos, afetivos e sociais. “Quando chegamos, não havia nada aqui”, conta Rejane, apontando para um terreno ao lado do sítio, sem qualquer construção e atravessado por um banhado. “Me disseram que eu tinha que fazer um dreno no terreno para tirar a água. Eu não tinha a menor ideia do que se tratava. Menina de apartamento, eu tinha pânico de barata e aqui tive que aprender a conviver com aranhas, escorpiões e cobras. Hoje eu tenho medo de temporal por conta dos estragos. Quase todas essas árvores que vocês estão vendo aqui foi meu marido que plantou”, aponta indicando uma área junto às casas e seguida pelo olhar atento de algumas dezenas de cães que acompanhavam com curiosidade e apreensão a conversa dela com aqueles dois estranhos. O início foi muito difícil. “Mudamos para cá em dezembro de 2006 e no mês seguinte eu fui demitida”. Ela decidiu seguir em frente.
“A ideia sempre foi ser um sítio sustentável”
Nas noites geladas de inverno, lareira é um dos espaços mais disputados. "EU TINHA QUE FAZER ALGO" “Ou você toma uma atitude ou não. Decidi que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo”, diz Rejane Velho Ferreira, que construiu um sítio no Lami para cuidar de animais abandonados. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) “Ou você toma uma atitude ou não. Decidi que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo”, diz Rejane Velho Ferreira, que construiu um sítio no Lami para cuidar de animais abandonados. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) “Isso aqui é um trabalho de vida e de entrega. Eu comecei a trabalhar com animais abandonados no dia em que abandonaram uma cadela prenha perto de onde eu trabalhava. Diante de uma situação como esta, as pessoas costumam dizer: ‘alguém tem que fazer alguma coisa’. Mas não existe o alguém. Esse alguém é cada um de nós e essas situações de abandono sempre envolvem uma escolha. Ou você toma uma atitude ou não. Eu me dei conta que alguém tinha que fazer algo por eles e esse alguém era eu”. Rejane Velho Ferreira conta a história de como começou a resgatar e cuidar de animais abandonados, por volta do ano 2000, enfatizando essa dimensão da escolha que atravessa a vida e sempre nos desafia a tomar uma atitude…ou não.  Em 2006, ela tomou uma decisão importante em sua vida e, junto com o marido, comprou um sítio de aproximadamente um hectare e meio no bairro do Lami, localizado no extremo sul de Porto Alegre. Na época, ela tinha dez cães e seis gatos e ele, seis cães e um gato. A ideia era encontrar um lugar com espaço e características especiais que pudesse dar uma maior qualidade de vida aos animais. O sitio adquirido na zona rural da capital gaúcha tinha essas características: muito espaço, mas nenhuma infraestrutura. Nascia ali uma experiência de cuidado de animais abandonados que se tornou uma referência nacional. O Sítio da Rejane tem hoje uma população de aproximadamente 300 cães e 40 gatos resgatados da rua, “que sonham ser adotados por humanos de raça”, como diz a página do sítio no Facebook.  “Nunca imaginei chegar onde cheguei”  “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Foto: Guilherme Santos/Sul21 “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Foto: Guilherme Santos/Sul21 Quem visita o sítio, porém, tem a impressão de que, se fosse realizada uma pesquisa entre os cachorros e cachorras, uma boa parte talvez não quisesse sair dali. Afinal, viver em um sítio de um hectare e meio, com um pequeno açude para brincadeiras aquáticas no verão, direito à casa com lareira nas noites geladas do inverno gaúcho, cuidado e amor, não é uma combinação a ser desprezada, especialmente por parte de animais que já experimentaram as dores do abandono e da solidão. “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Ela assegura que nunca planejou ter um sítio com tantos animais. “Nunca imaginei chegar onde cheguei”, afirma, assinalando que esse percurso foi sendo construído pela decisão de tomar uma atitude diante do abandono e não esperar que “alguém” fizesse alguma coisa.  A escolha teve seus custos, que seguem até hoje. Custos econômicos, afetivos e sociais. “Quando chegamos, não havia nada aqui”, conta Rejane, apontando para um terreno ao lado do sítio, sem qualquer construção e atravessado por um banhado. “Me disseram que eu tinha que fazer um dreno no terreno para tirar a água. Eu não tinha a menor ideia do que se tratava. Menina de apartamento, eu tinha pânico de barata e aqui tive que aprender a conviver com aranhas, escorpiões e cobras. Hoje eu tenho medo de temporal por conta dos estragos. Quase todas essas árvores que vocês estão vendo aqui foi meu marido que plantou”, aponta indicando uma área junto às casas e seguida pelo olhar atento de algumas dezenas de cães que acompanhavam com curiosidade e apreensão a conversa dela com aqueles dois estranhos. O início foi muito difícil. “Mudamos para cá em dezembro de 2006 e no mês seguinte eu fui demitida”. Ela decidiu seguir em frente.  “A ideia sempre foi ser um sítio sustentável”  Nas noites geladas de inverno, lareira é um dos espaços mais disputados. (Foto: Divulgação) Nas noites geladas de inverno, lareira é um dos espaços mais disputados. (Foto: Divulgação)  Cerca de nove anos depois, o que ela e seu marido Daniel construíram impressiona pelos números e, principalmente, pela entrega afetiva e existencial. Os cachorros consomem cerca de 4 toneladas de ração por mês. Dois caseiros e mais cinco pessoas ajudam com a logística da alimentação, da vigilância para controlar eventuais brigas, da saúde e recreação dos animais. Há uma divisão de trabalho entre eles e um sistema de vigilância permanente, sete dias por semana. O custo mensal atual gira em torno de 25 mil reais, entre gastos com ração, folha de pagamento dos funcionários e gastos com veterinária. Cerca de 100 animais tem padrinhos que contribuem mensalmente e ajudam a sustentar o sítio. “A ideia sempre foi ser um sítio sustentável”, diz Rejane que trabalha ainda como voluntária da Associação Duas Mãos, Quatro Patas.  Os animais também têm as suas divisões e grupos. Os gatos vivem separados em uma casa com pátio amplo, transformada em gatil. Na sua vizinhança, um cavalo e algumas galinhas. Os cães se dividem em grupos e as relações de dominação entre eles não tem a ver necessariamente com tamanho. Rejane cita como exemplo a história da Minhoca, uma pequena cadela que manda e desmanda em cães maiores que ajudou a criar. Todos os mais de 300 cães que habitam o sítio hoje tem nome e uma história. Ela mantem um registro de chegada dos animais e garante: “Todos eles têm nome e história. De vários deles eu conheço o latido e os costumes”.  “A ideia do livro é contar a minha experiência de vida e a história deles”  É uma rotina puxada. “São mais de oito anos de trabalho árduo, sem férias, sem viagens. Neste período todo, dormi duas vezes fora daqui”. Hoje, Rejane enfrenta um novo e insólito problema. Ela, Daniel e as duas filhas, Amanda (5 anos) e Natália (4 anos e meio), se mudaram para uma casa nova que construíram no sítio. Durante a noite, os cães que dormem na casa antiga começam a uivar e não param enquanto não enxergam sua protetora. Questionada sobre se, alguma vez, já teve vontade de desistir, ela responde: “Algumas horas dá um cansaço, é verdade. Mas, me livrar deles não é uma opção. Eles dependem de mim”. E Rejane, ela admite, também depende deles. Agora, ela começou a escrever essa história que pretende publicar em um livro.  “A ideia do livro é contar a minha experiência de vida, falar de como descobri que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo. Quero contar a história de meus bichos e de como eles me influenciaram. Eles também foram e são importantes para o meu próprio resgate”.   Várias dessas histórias estão publicadas na página do sítio da Rejane no Facebook; histórias como a de Napoleão, que superou um câncer e adora andar de carro para sentir vento em seu rosto:  Nadar e brincar no açude é uma hora de festa para os cães. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) Nadar e brincar no açude é uma hora de festa para os cães. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) Napoleão, lindo, fofo e querido. Do que ele gosta? De passear de carro! Qualquer carro, desde que esteja com a porta aberta…. pode ser o vidro, também! Chegou aqui com um tumor no nariz, passou muito trabalho esse queridão, fez uma cirurgia, teve um dreno colocado na cabeça, fez quimioterapia…. há tempos está 100% recuperado mas nunca apareceu adotante pra ele. Apesar de ser grande e ter alguma cruza com Pitt Bull, é o cão mais dócil do mundo, com pessoas, outros cães, gatos, galinhas. Se você tem carro e quer levar ele pra dar uma voltinha, é só chegar! E se quiser levar ele pra morar contigo tem que ter um muro muito alto, pra ele não trocar teu carro pelo primeiro que passar de vidro aberto!!!  “Ser um animal é estar cheio de ser e de alegria”  A história de Rejane não é simplesmente a de uma pessoa que decidiu dedicar a sua vida a cuidar de animais abandonados. É, sobretudo, a história de uma escolha, de uma decisão, que pode se aplicar a todas as dimensões da vida. Defrontada com uma situação onde achava que “alguém tinha que fazer alguma coisa”, viu que esse alguém era ela mesma e decidiu fazer e seguiu fazendo. A equação que soma a renovação diária da decisão de “não ficar esperando alguém fazer” com a existência, também diária, de situações de abandono e de maus-tratos de animais, levou à construção de um sítio que hoje tem cerca e 350 cães e gatos resgatados do abandono e vivendo livres.  No livro “A Vida dos Animais”, do escritor sul-africano J. M. Coetzee, Nobel de Literatura em 2003, a personagem Elizabeth Costello diz que “ser um animal é estar cheio de ser e cheio de alegria”. E, no último capítulo do livro, Barbara Smuts, professora de psicologia e antropologia na Universidade de Michigan, defende que “tratar membros de outras espécies como seres com um potencial muito além de nossas expectativas normais, nos trará o que há de melhor neles”. A história de Rejane parece indicar que pode trazer também o que há de melhor em nós, ampliando as próprias fronteiras e possibilidades do humano.  (*) Para quem quiser obter maiores informações sobre como apadrinhar um dos animais do sítio da Rejane,acesse aqui.
Nas noites geladas de inverno, lareira é um dos espaços mais disputados. (Foto: Divulgação)
Cerca de nove anos depois, o que ela e seu marido Daniel construíram impressiona pelos números e, principalmente, pela entrega afetiva e existencial. Os cachorros consomem cerca de 4 toneladas de ração por mês. Dois caseiros e mais cinco pessoas ajudam com a logística da alimentação, da vigilância para controlar eventuais brigas, da saúde e recreação dos animais. Há uma divisão de trabalho entre eles e um sistema de vigilância permanente, sete dias por semana. O custo mensal atual gira em torno de 25 mil reais, entre gastos com ração, folha de pagamento dos funcionários e gastos com veterinária. Cerca de 100 animais tem padrinhos que contribuem mensalmente e ajudam a sustentar o sítio. “A ideia sempre foi ser um sítio sustentável”, diz Rejane que trabalha ainda como voluntária da Associação Duas Mãos, Quatro Patas.
Os animais também têm as suas divisões e grupos. Os gatos vivem separados em uma casa com pátio amplo, transformada em gatil. Na sua vizinhança, um cavalo e algumas galinhas. Os cães se dividem em grupos e as relações de dominação entre eles não tem a ver necessariamente com tamanho. Rejane cita como exemplo a história da Minhoca, uma pequena cadela que manda e desmanda em cães maiores que ajudou a criar. Todos os mais de 300 cães que habitam o sítio hoje tem nome e uma história. Ela mantem um registro de chegada dos animais e garante: “Todos eles têm nome e história. De vários deles eu conheço o latido e os costumes”.
“A ideia do livro é contar a minha experiência de vida e a história deles”
É uma rotina puxada. “São mais de oito anos de trabalho árduo, sem férias, sem viagens. Neste período todo, dormi duas vezes fora daqui”. Hoje, Rejane enfrenta um novo e insólito problema. Ela, Daniel e as duas filhas, Amanda (5 anos) e Natália (4 anos e meio), se mudaram para uma casa nova que construíram no sítio. Durante a noite, os cães que dormem na casa antiga começam a uivar e não param enquanto não enxergam sua protetora. Questionada sobre se, alguma vez, já teve vontade de desistir, ela responde: “Algumas horas dá um cansaço, é verdade. Mas, me livrar deles não é uma opção. Eles dependem de mim”. E Rejane, ela admite, também depende deles. Agora, ela começou a escrever essa história que pretende publicar em um livro.
“A ideia do livro é contar a minha experiência de vida, falar de como descobri que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo. Quero contar a história de meus bichos e de como eles me influenciaram. Eles também foram e são importantes para o meu próprio resgate”.
Várias dessas histórias estão publicadas na página do sítio da Rejane no Facebook; histórias como a de Napoleão, que superou um câncer e adora andar de carro para sentir vento em seu rosto:
Nadar e brincar no açude é uma hora de festa para os cães. "EU TINHA QUE FAZER ALGO" “Ou você toma uma atitude ou não. Decidi que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo”, diz Rejane Velho Ferreira, que construiu um sítio no Lami para cuidar de animais abandonados. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) “Ou você toma uma atitude ou não. Decidi que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo”, diz Rejane Velho Ferreira, que construiu um sítio no Lami para cuidar de animais abandonados. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) “Isso aqui é um trabalho de vida e de entrega. Eu comecei a trabalhar com animais abandonados no dia em que abandonaram uma cadela prenha perto de onde eu trabalhava. Diante de uma situação como esta, as pessoas costumam dizer: ‘alguém tem que fazer alguma coisa’. Mas não existe o alguém. Esse alguém é cada um de nós e essas situações de abandono sempre envolvem uma escolha. Ou você toma uma atitude ou não. Eu me dei conta que alguém tinha que fazer algo por eles e esse alguém era eu”. Rejane Velho Ferreira conta a história de como começou a resgatar e cuidar de animais abandonados, por volta do ano 2000, enfatizando essa dimensão da escolha que atravessa a vida e sempre nos desafia a tomar uma atitude…ou não.  Em 2006, ela tomou uma decisão importante em sua vida e, junto com o marido, comprou um sítio de aproximadamente um hectare e meio no bairro do Lami, localizado no extremo sul de Porto Alegre. Na época, ela tinha dez cães e seis gatos e ele, seis cães e um gato. A ideia era encontrar um lugar com espaço e características especiais que pudesse dar uma maior qualidade de vida aos animais. O sitio adquirido na zona rural da capital gaúcha tinha essas características: muito espaço, mas nenhuma infraestrutura. Nascia ali uma experiência de cuidado de animais abandonados que se tornou uma referência nacional. O Sítio da Rejane tem hoje uma população de aproximadamente 300 cães e 40 gatos resgatados da rua, “que sonham ser adotados por humanos de raça”, como diz a página do sítio no Facebook.  “Nunca imaginei chegar onde cheguei”  “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Foto: Guilherme Santos/Sul21 “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Foto: Guilherme Santos/Sul21 Quem visita o sítio, porém, tem a impressão de que, se fosse realizada uma pesquisa entre os cachorros e cachorras, uma boa parte talvez não quisesse sair dali. Afinal, viver em um sítio de um hectare e meio, com um pequeno açude para brincadeiras aquáticas no verão, direito à casa com lareira nas noites geladas do inverno gaúcho, cuidado e amor, não é uma combinação a ser desprezada, especialmente por parte de animais que já experimentaram as dores do abandono e da solidão. “A grande diferença aqui é a qualidade de vida e a liberdade que eles têm, observa Rejane, que acredita que acumular animais é uma péssima ideia. Ela assegura que nunca planejou ter um sítio com tantos animais. “Nunca imaginei chegar onde cheguei”, afirma, assinalando que esse percurso foi sendo construído pela decisão de tomar uma atitude diante do abandono e não esperar que “alguém” fizesse alguma coisa.  A escolha teve seus custos, que seguem até hoje. Custos econômicos, afetivos e sociais. “Quando chegamos, não havia nada aqui”, conta Rejane, apontando para um terreno ao lado do sítio, sem qualquer construção e atravessado por um banhado. “Me disseram que eu tinha que fazer um dreno no terreno para tirar a água. Eu não tinha a menor ideia do que se tratava. Menina de apartamento, eu tinha pânico de barata e aqui tive que aprender a conviver com aranhas, escorpiões e cobras. Hoje eu tenho medo de temporal por conta dos estragos. Quase todas essas árvores que vocês estão vendo aqui foi meu marido que plantou”, aponta indicando uma área junto às casas e seguida pelo olhar atento de algumas dezenas de cães que acompanhavam com curiosidade e apreensão a conversa dela com aqueles dois estranhos. O início foi muito difícil. “Mudamos para cá em dezembro de 2006 e no mês seguinte eu fui demitida”. Ela decidiu seguir em frente.  “A ideia sempre foi ser um sítio sustentável”  Nas noites geladas de inverno, lareira é um dos espaços mais disputados. (Foto: Divulgação) Nas noites geladas de inverno, lareira é um dos espaços mais disputados. (Foto: Divulgação)  Cerca de nove anos depois, o que ela e seu marido Daniel construíram impressiona pelos números e, principalmente, pela entrega afetiva e existencial. Os cachorros consomem cerca de 4 toneladas de ração por mês. Dois caseiros e mais cinco pessoas ajudam com a logística da alimentação, da vigilância para controlar eventuais brigas, da saúde e recreação dos animais. Há uma divisão de trabalho entre eles e um sistema de vigilância permanente, sete dias por semana. O custo mensal atual gira em torno de 25 mil reais, entre gastos com ração, folha de pagamento dos funcionários e gastos com veterinária. Cerca de 100 animais tem padrinhos que contribuem mensalmente e ajudam a sustentar o sítio. “A ideia sempre foi ser um sítio sustentável”, diz Rejane que trabalha ainda como voluntária da Associação Duas Mãos, Quatro Patas.  Os animais também têm as suas divisões e grupos. Os gatos vivem separados em uma casa com pátio amplo, transformada em gatil. Na sua vizinhança, um cavalo e algumas galinhas. Os cães se dividem em grupos e as relações de dominação entre eles não tem a ver necessariamente com tamanho. Rejane cita como exemplo a história da Minhoca, uma pequena cadela que manda e desmanda em cães maiores que ajudou a criar. Todos os mais de 300 cães que habitam o sítio hoje tem nome e uma história. Ela mantem um registro de chegada dos animais e garante: “Todos eles têm nome e história. De vários deles eu conheço o latido e os costumes”.  “A ideia do livro é contar a minha experiência de vida e a história deles”  É uma rotina puxada. “São mais de oito anos de trabalho árduo, sem férias, sem viagens. Neste período todo, dormi duas vezes fora daqui”. Hoje, Rejane enfrenta um novo e insólito problema. Ela, Daniel e as duas filhas, Amanda (5 anos) e Natália (4 anos e meio), se mudaram para uma casa nova que construíram no sítio. Durante a noite, os cães que dormem na casa antiga começam a uivar e não param enquanto não enxergam sua protetora. Questionada sobre se, alguma vez, já teve vontade de desistir, ela responde: “Algumas horas dá um cansaço, é verdade. Mas, me livrar deles não é uma opção. Eles dependem de mim”. E Rejane, ela admite, também depende deles. Agora, ela começou a escrever essa história que pretende publicar em um livro.  “A ideia do livro é contar a minha experiência de vida, falar de como descobri que não adianta ter pena e ficar de braços cruzados esperando que alguém faça algo. Quero contar a história de meus bichos e de como eles me influenciaram. Eles também foram e são importantes para o meu próprio resgate”.   Várias dessas histórias estão publicadas na página do sítio da Rejane no Facebook; histórias como a de Napoleão, que superou um câncer e adora andar de carro para sentir vento em seu rosto:  Nadar e brincar no açude é uma hora de festa para os cães. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) Nadar e brincar no açude é uma hora de festa para os cães. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) Napoleão, lindo, fofo e querido. Do que ele gosta? De passear de carro! Qualquer carro, desde que esteja com a porta aberta…. pode ser o vidro, também! Chegou aqui com um tumor no nariz, passou muito trabalho esse queridão, fez uma cirurgia, teve um dreno colocado na cabeça, fez quimioterapia…. há tempos está 100% recuperado mas nunca apareceu adotante pra ele. Apesar de ser grande e ter alguma cruza com Pitt Bull, é o cão mais dócil do mundo, com pessoas, outros cães, gatos, galinhas. Se você tem carro e quer levar ele pra dar uma voltinha, é só chegar! E se quiser levar ele pra morar contigo tem que ter um muro muito alto, pra ele não trocar teu carro pelo primeiro que passar de vidro aberto!!!  “Ser um animal é estar cheio de ser e de alegria”  A história de Rejane não é simplesmente a de uma pessoa que decidiu dedicar a sua vida a cuidar de animais abandonados. É, sobretudo, a história de uma escolha, de uma decisão, que pode se aplicar a todas as dimensões da vida. Defrontada com uma situação onde achava que “alguém tinha que fazer alguma coisa”, viu que esse alguém era ela mesma e decidiu fazer e seguiu fazendo. A equação que soma a renovação diária da decisão de “não ficar esperando alguém fazer” com a existência, também diária, de situações de abandono e de maus-tratos de animais, levou à construção de um sítio que hoje tem cerca e 350 cães e gatos resgatados do abandono e vivendo livres.  No livro “A Vida dos Animais”, do escritor sul-africano J. M. Coetzee, Nobel de Literatura em 2003, a personagem Elizabeth Costello diz que “ser um animal é estar cheio de ser e cheio de alegria”. E, no último capítulo do livro, Barbara Smuts, professora de psicologia e antropologia na Universidade de Michigan, defende que “tratar membros de outras espécies como seres com um potencial muito além de nossas expectativas normais, nos trará o que há de melhor neles”. A história de Rejane parece indicar que pode trazer também o que há de melhor em nós, ampliando as próprias fronteiras e possibilidades do humano.  (*) Para quem quiser obter maiores informações sobre como apadrinhar um dos animais do sítio da Rejane,acesse aqui.
Nadar e brincar no açude é uma hora de festa para os cães. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Napoleão, lindo, fofo e querido. Do que ele gosta? De passear de carro! Qualquer carro, desde que esteja com a porta aberta…. pode ser o vidro, também! Chegou aqui com um tumor no nariz, passou muito trabalho esse queridão, fez uma cirurgia, teve um dreno colocado na cabeça, fez quimioterapia…. há tempos está 100% recuperado mas nunca apareceu adotante pra ele. Apesar de ser grande e ter alguma cruza com Pitt Bull, é o cão mais dócil do mundo, com pessoas, outros cães, gatos, galinhas. Se você tem carro e quer levar ele pra dar uma voltinha, é só chegar! E se quiser levar ele pra morar contigo tem que ter um muro muito alto, pra ele não trocar teu carro pelo primeiro que passar de vidro aberto!!!
“Ser um animal é estar cheio de ser e de alegria”
A história de Rejane não é simplesmente a de uma pessoa que decidiu dedicar a sua vida a cuidar de animais abandonados. É, sobretudo, a história de uma escolha, de uma decisão, que pode se aplicar a todas as dimensões da vida. Defrontada com uma situação onde achava que “alguém tinha que fazer alguma coisa”, viu que esse alguém era ela mesma e decidiu fazer e seguiu fazendo. A equação que soma a renovação diária da decisão de “não ficar esperando alguém fazer” com a existência, também diária, de situações de abandono e de maus-tratos de animais, levou à construção de um sítio que hoje tem cerca e 350 cães e gatos resgatados do abandono e vivendo livres.
No livro “A Vida dos Animais”, do escritor sul-africano J. M. Coetzee, Nobel de Literatura em 2003, a personagem Elizabeth Costello diz que “ser um animal é estar cheio de ser e cheio de alegria”. E, no último capítulo do livro, Barbara Smuts, professora de psicologia e antropologia na Universidade de Michigan, defende que “tratar membros de outras espécies como seres com um potencial muito além de nossas expectativas normais, nos trará o que há de melhor neles”. A história de Rejane parece indicar que pode trazer também o que há de melhor em nós, ampliando as próprias fronteiras e possibilidades do humano.
(*) Para quem quiser obter maiores informações sobre como apadrinhar um dos animais do sítio da Rejane,acesse aqui.

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