- Inicio >
- Mudanças climáticas estão causando a morte dos alces
Postado Por : Dom Ruiz
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
MINNESOTA (EUA)
A morte recente de um raro alce albino foi trágica, mas conforme reportagem do The New York Times, todos os alces estão se tornando raros na medida em que se observa suas populações rapidamente declinando.
Há vinte anos, Minnesota tinha duas populações de alces separadas geograficamente. Uma delas desapareceu quase totalmente desde os anos 90, quando caiu de 4 mil para menos de 100 animais.
A outra população, no nordeste de Minnesota, está diminuindo 25% a cada ano e agora restam menos de 3 mil animais dos 8 mil que havia na região. (A taxa de mortalidade costumava estar entre 8 a 12 por cento ao ano). Como resultado, autoridades de vida selvagem suspenderam toda a caça aos alces.
Em Montana, o número de licenças para caça aos alces em 1995 foi de 769, contra 362 no último ano.
“Algo mudou”, disse Nicholas DeCesare, um biólogo do Departamento de Parques e Vida Selvagem de Montana, que recebeu a tarefa de contar o número de alces em uma parte do Estado. Esse é um dos numerosos esforços ao redor do continente para mensurar e explicar o declínio. “Há menos alces na região, e caçadores estão trabalhando duramente para encontrá-los”.
Como o TreeHugger observou no passado, enquanto os cientistas têm hesitado em apontar uma causa específica para o declínio, evidências sugerem que a mudança climática esteja desempenhando um papel significativo.
Segundo o The New York Times:
“As estações de inverno têm encurtado substancialmente na maior parte da região onde vivem os alces. Em New Hampshire, um longo inverno com menos neve aumentou grandemente o número de uma espécie de carrapatos chamados ‘ticks’, que parasitam os alces. ‘Pode-se ter 100 mil carrapatos em um alce’, disse Kristine Rines, uma bióloga do Departmento de Caça e Pesca. Em Minnesota, os principais agentes ameaçadores são os vermes do cérebro e do fígado. Ambos passam parte de seus ciclos de vida em caracóis, que prosperam em ambientes úmidos. ”
Outra teoria é o stress causado pelo calor. Alces são animais que se adaptam bem ao clima frio, e quando a temperatura sobe acima de 23 graus no inverno, e isso tem acontecido frequentemente nos últimos anos, eles dispendem energia extra para se manter com o corpo frio. Isso pode levar à exaustão e à morte.
Nas montanhas Cariboo em British Columbia, um estudo recente associou o declínio dos alces à morte generalizada das árvores na floresta por uma epidemia causada em pinheiros devido a besouros predadores que prosperam em clima quente. A perda das árvores teria deixado os alces mais expostos a predadores humanos e animais.
Em Smithers, British Columbia, em Abril, um alce morrendo de fome e severamente infestado por carrapatos foi visto vagando pela seção de flores de um mercado. Segundo a reportagem, ele foi morto. Veja o vídeo:
A caça também desempenha um papel na mortalidade dos alces, assim como na dos lobos em Minnesota e em todo o Ocidente.
Cientistas e autoridades afirmam que outros fatores ainda podem ser apontados como responsáveis. Uma vez que a maioria dos alces morre no inverno, os meses seguintes à esta estação podem fornecer algumas pistas.
“É complicado pois há muitas peças neste quebra-cabeças, mas todas poderiam ser impactadas pela mudança climática”, disse Erika Butler, veterinária de vida selvagem do Departamento de Recursos Naturais de Minnesota.
As apostas vão além dos alces propriamente ditos. Conforme coloca a reportagem, “os animais são engenheiros do ecossistema; quando eles manipulam arbustos, por exemplo, eles criam habitat para alguns ninhos de pássaros”.
Outro fator mencionado na reportagem e que nunca falta nas ponderações humanas é o da “contribuição” dos alces para a economia. Em New Hampshire, o turismo para observar alces movimenta 115 milhões de dólares por ano, de acordo com Rines.
As mortes dos alces também são difíceis de estudar, segundo os cientistas. Esses animais são membros da família dos cervos mas, ao contrário destes, são solitários e não andam em rebanhos, por isso é complicado rastreá-los. Além do mais, alces têm altos níveis de gordura corporal, o que faz com que seus corpos se decomponham rapidamente e dificultem a realização ou a eficácia da necrópsia.
Em janeiro, Minnesota começou um estudo de 1,2 milhões de dólares usando tecnologia avançada de monitoramento para encontrar corpos de alces assim que eles morriam. Animais vivos foram capturados e receberam coleiras que forneceriam sua localização a cada 15 minutos, além de dados de temperatura do corpo e batimentos cardíacos. Os alces foram então liberados na natureza e, caso o coração pare de bater, é enviada uma mensagem de texto para um celular que diz: “Estou morto nas coordenadas x e y (de localização)”, informou o Dr. Butler, que conduziu o estudo. As mensagens são monitoradas o tempo todo. Quando um alce morre, um time vai correndo até o local de carro ou helicóptero.
Mark Keech, biólogo, e Tiffany Wolf, veterinária, colocam coleira em alce e recolhem amostras para estudo sobre motivo das mortes desses animais
O problema dos carrapatos de inverno em New Hampshire é particularmente irritante. Os animais perdem muito sangue e podem tornar-se anêmicos. Pior ainda, os carrapatos incomodam os alces a tal ponto que estes chegam a arrancar muito de seu pelo ao se coçar. Alguns alces perdem tanto cabelo que parecem pálidos, e algumas pessoas os chamam de “alces fantasmas”. Quando chove na primavera, os alces, privados de seus pelos, tornam-se hipotérmicos.
Carrapatos de inverno eclodem no outono, quando começar a subir a bordo de seu hospedeiro. Eles ficam dormentes até janeiro ou fevereiro, quando eles começam a se alimentar, fazer a muda e depois sair.
Alces passam muito tempo se alimentando em lagos, mas o fato de entrarem na água não afoga os carrapatos; pelo contrário, forma uma bolha de ar que permite que os parasitas sobrevivam em imersão.
Os carrapatos são um fenômeno relativamente recente em New Hampshire. Mas a existência dos alces no local também é. Os animais foram caçados até desaparecerem durante o período colonial, e voltaram ao estado apenas na década de 70.